Domingo, à tarde, enquanto o mundo caminhava por seus sonhos, objetivos e desejos, eu parei por uns reles minutos para ver o Bairro da Lagoa, aqui de 'riba da ponte' como dizem no popular.
Aquela Veneza às avessas ! O Da Lagoa entre um morro, um igarapé e o rio é uma vergonha para a civilização nacional. É triste, não deveria mais existir, nunca deveria ter existido. Assim não !
Há quem ache charme nisto. Para mim é horrendo, é o que de mais tosco pode uma sociedade moderna produzir. Se fosse eu capacitado pelo dom da poesia jamais me inspiraria tal cena.
Preferia que ao invés de mergulhado dentro da escura água do igarapé São Salvador, aquele poluído e já agonizante, estivessem os humanos e seus bichanos de estimação à seco, num bairro com várias casinhas coloridas, com ruas bem esquadrinhadas com o branco e amarelo das sinalizações horizontais em contraste com o negro da pavimentação.
E bem ali naquele local mesmo à entrada do centro da cidade. É o máximo onde minha tacanha ideia de conforto urbanizado consegue chegar. Me angustia a necessária assimetria da existência !
As crianças livres da vida severina amazônica em ter que dividir com insetos, aracnídeos e répteis ou outras espécimes de peçonhas, os seus lares e cotidianos. Longe deveriam está da água ameaçadora a lamber a madeira do assoalho. Pobres das crianças Da Lagoa !
Há quem, repito, veja poesia nisto. Duvide que aceitem trocar de lugar : as sua crianças no Lagoa !
Preferia eu que naquele domingo estivessem elas brincando em ruas arborizadas. De preferência à sombra das castanholas ( em outras regiões: chapéu de sol, sete copas, amendoeira de praia,...) que por aqui quase não mais se vê.
Eis aí poetas cruzeirenses uma boa inspiração : O ultimo pé de castanhola de Cruzeiro do Sul, onde estará ele esse companheiro da urbanização de outrora ?
Façam ou farei eu uma ode...para o desgosto da boa poesia desta terra. Depois não me acusem de ser um semialfabetizado, um pobre de filosofia a escrever sobre o que não entendo...
Enquanto eu enxergava as castanholas e outras árvores a dá o tom de verde àquela meditação de míseros minutos que já produzira como efeito uma morna sensação de tarde e um compêndio de maus pensamentos sobre a nossa política, me passa por debaixo da ponte um desses pequenos barcos.
Ia carregado de pesadas caixas de som. Se dirigia justamente para o Lagoa. No ultimo volume, uma dessas músicas de gosto duvidoso, letras de duplo sentido e sucesso efêmero.
Diria que era um mau forró de muitos triângulos e foles !
Que melancólico para um final de dia claro. Àquela hora já com o quase crepúsculo irradiando sobre o rio, com aquela música medonha, achei que o Lagoa, a nossa civilização e minha inspiração estão a meio caminho, sempre.
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