"_ Tamanha velha, tão boa de criar vergonha..."
Ué, mas por quê ? Ela não estava roubando ou praticando qualquer nulidade da vida social. Ela só dançava só, ao vento.
E daí se é velha ? Por que só aos velhos é cobrada " a vergonha na cara " quando quer ser livre das amarras ? O bebê é esperto, o jovem é rebelde, mas o idoso, o maduro, é sem-vergonha...
E daí se ela dança na praça, enquanto os outros responsáveis pela produção do PIB, apressados, passam pela vida em busca das necessidades criadas pela natureza e na correria pela satisfação das necessidades artificialmente desejadas ?
Se a praça é pública, construída pelos encargos e impostos arrecadados pelo poder constituído, ela, que já contribuiu por longas décadas, é sócia majoritária.
Mas o que causa tanta ojeriza nas pessoas ao verem uma senhora idosa a dançar em praça pública, ao som de música nenhuma, a não ser aquela surdamente soprada na sua mente já cansada pelo tempo ?
Não poderia explicar o porquê do bailado, pois não compreendo-o. Quem baila não é humano, na dança não há racionalidade, o corpo segue o som guiado por uma mente dormente, dopada; o corpo a desafiar a lei gravitacional . Ou se pensa ou se dança, não há meio termo.
Mas também não é bicho de outra espécie quem flui a se mover pela superfície sem andar ou não correr. Neste planeta, só os humanos desde as mais tenras sociedades dançam sob o som.
Deve então ser coisa de espírito, esse movimento. Talvez seja por isso que alguns vejam a dança como criação do mal, a seduzir o humano; enquanto outros a veem como a sublimação do ser, portanto divina.
Aqui, penso em meu pobre filosofar que o que desafia a visão daqueles que a reprovam é ver o corpo dela, flácido, a se mostrar e remexer. Aquilo demonstra uma verdade cruel: _este é destino final de toda juventude, o que causa certa repulsa.
Então determinam que se deve esconder a realidade. É demasiadamente humano _ e restrito também à espécie humana _ a consciência sobre a velhice, sua decadência física e o medo inconsciente que isto provoca.
Pois bem. Queria eu, se velho ficar um dia, também quebrar esse protocolo tolo de que um idoso não possa ser um maluco a desafiar os paradigmas de uma sociedade incrivelmente incomodada com a alegria alheia.
Fazer como aquela senhora, ali _ que já cumpriu com todas as etapas da caminhada terrena _ dançando na praça, sem tirar nada de ninguém, a não ser alguns segundos da atenção deles, nem que seja só para lhe rogarem impropérios por ela ser livre, leve e solta _ e velha, este, o único mal.
Mas também não é bicho de outra espécie quem flui a se mover pela superfície sem andar ou não correr. Neste planeta, só os humanos desde as mais tenras sociedades dançam sob o som.
Deve então ser coisa de espírito, esse movimento. Talvez seja por isso que alguns vejam a dança como criação do mal, a seduzir o humano; enquanto outros a veem como a sublimação do ser, portanto divina.
Aqui, penso em meu pobre filosofar que o que desafia a visão daqueles que a reprovam é ver o corpo dela, flácido, a se mostrar e remexer. Aquilo demonstra uma verdade cruel: _este é destino final de toda juventude, o que causa certa repulsa.
Então determinam que se deve esconder a realidade. É demasiadamente humano _ e restrito também à espécie humana _ a consciência sobre a velhice, sua decadência física e o medo inconsciente que isto provoca.
Pois bem. Queria eu, se velho ficar um dia, também quebrar esse protocolo tolo de que um idoso não possa ser um maluco a desafiar os paradigmas de uma sociedade incrivelmente incomodada com a alegria alheia.
Fazer como aquela senhora, ali _ que já cumpriu com todas as etapas da caminhada terrena _ dançando na praça, sem tirar nada de ninguém, a não ser alguns segundos da atenção deles, nem que seja só para lhe rogarem impropérios por ela ser livre, leve e solta _ e velha, este, o único mal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário