quinta-feira, 26 de maio de 2011

A INJUSTIÇA TARDA E NOSSA INDIGNAÇÃO É FALHA



Com apatia recebi a notícia que depois de breves onze anos a justiça foi feita e o assassino Pimenta Neves, coitado, foi condenado. A pena original era de 18 anos de reclusão. A defesa conseguiu baixar para 15. Nosso rígido código de lei prevê, em nome da dignidade humana, um dispositivo legal chamado Progressão de  Pena. Em favor da honra os desvalidos da misericórdia, também conhecidos como condenados, podem ter redução da pena até  sua sexta parte.É de dá pena, quer dizer, dó.

Em suma, o pobre assassino da cruel vítima _ uma mulher, jornalista, que ousou ser morta _ deverá ficar trancafiado por infindáveis 23 meses. Depois disso cumprirá mais uns dois agoniantes anos de regime semiaberto. Finalmente, voltará ao seio da sociedade como uma pessoa proba , que já pagou pelo seu pequeno deslize, portanto,  livre para cometer outra benevolência à humanidade. Podemos agora  continuarmos a domir tranquilos.

Tranquilos ? Claro. Feliz, estou vendo grande mobilização tanto por parte dos políticos, quanto da sociedade civil organizada, de plural espécie. Contente, assisto ao engajamento da imprensa do país, os nossos heróicos e redentores jornalistas. Extasiado, agradeço por ver nossos líderes religiosos, preocupados em não deixar o mal triunfar sobre a Terra. Nos últimos meses, estamos passando por um turbilhão de consciência em busca do bem comum.

Evidente que não estamos, nós os inconformados, preocupados com uma coisa tão sem importância como é o Código Penal Brasileiro. Da mesma forma pouco nos interessa, como sociedade esclarecida, o fracasso escolar e tampouco a bancarrota da saúde pública, em todas as esferas governamentais. Isto, porque são assuntos secundários e menores,  diante do assombroso crescimento das forças do mal representada pelos homossexuais e mulheres que querem abortar. Também devemos, a priori, nos concentrarmos em resolver a situação do nosso código "Da Vinci" tupiniquim, cheio de mistérios e meandros, apelidado de " Código Florestal". E como esquecer da salvadora e civilizatória Reforma Política ? 

Do resto não nos preocupemos agora. A falta de saúde, a falta de educação, a frouxidão de nossas leis, a incompetência do sistema jurídico, a corrupção....nada disso é uma afronta à vida, à dignidade humana e às famílias. Talvez seja por isso que não incomode tanto a "deus", assim pastores e padres  não precisem dispensar o tempo de suas pregações sobre tais assuntos; talvez por isso não mereça passeatas " dos cem mil" em nome da moralidade;  talvez por isso não seja relevante para merecer um "cruzada"  popular;  talvez por isso deixemos tais assuntos para que somente os políticos resolvam quando houver vontade e tempo de fazê-lo;  talvez por isso tais fatos  nunca são explorados por programas apelativos e não passe semanas e semanas na mídia.  Enfim, talvez por isso  preocupamos-nos tanto em deixar um  mundo melhor para os nossos descendentes.

As mortes por motivos furteis, os  roubos, a corrupção , a impunidade, a miséria social não são tão vergonhosos  quanto ser gay  e querer casar-se ou ousar ser um dasavisado e viver alheio ao do tal Código Florestal ou conformar- se  com o atual  formato eleitoral do país. Estamos, claro, agora priorizando a vida e a moral. Prioridade, eis a palavra-chave. O "resto" ao futuro pertence. Entreguemos, então, a Deus e voltemos a dormir tranquilos.

Tranquilos ? Não. A advogada do réu confesso reclamou que as celas da delegacia onde o mesmo pernoitou " não era lugar decente para gente ficar". Tem razão. Devemos melhorar as celas, para que essas não sejam menos confortáveis do que o frio túmulo no qual jaz os restos mortais da ingrata e também primária vítima, há onze anos...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

NÓS OS MELIANTES DO ARENA DO JURUÁ



Ontem, como já é de praxe, resolvi gastar meu tempo em assistir a mais um jogo do Náuas pelo Campeonato Acreano de Futebol Profissional (sic) , versão 2011. Sinceramente é algo que não tenho vergonha de fazer. Graças a Deus não tenho que esbanjar cultura. Alguns perdem seu tempo em encher a cara de álcool, o bucho de churrasco de carne gordurosa. Eu perco o meu assistindo jogos em fins de semana.

Chegando ao estádio Arena do Juruá, dirigi-me à bilheteria. Enquanto desembolsava R$ 10,00, minha narinas foram invadidas por um odor insuportável. Segundo a funcionária que vendia o bilhete tratava-se de "remédio" para matar formigas, que fora aplicado há pouco tempo.Putz ! Um cheiro daquele não existe formiga que resista. Não sabia que fabricavam "remédio" para formigas a partir de extrato das glândulas axilares do gambá.

Ainda zonzo fui para o portão de acesso. Lá, um segurança usando um daqueles detector de metal móvel decidiu me revistar. Antes de mim, passaram no mínimo 04 pessoas sem essa preocupação. Eu porém despertei alguma suspeita no segurança. Não tiro a razão dele. Tenho realmente a cara de terrorista. Estava minha barba por fazer, usava bermuda e tênis de marca duvidosa. O detector acusou algo de errado no bolso dianteiro da minha bermuda. De imediato o segurança, experiente no ramo, questionou-me do que se tratava. Mais uma vez ele estava correto Existem estatísticas confiáveis que comprovam que os terroristas cruzeirenses costumam carregar armas e artefactos explosivos no bolso da frente da bermunda, quando vão aos estádios.

Aliviado, ele percebeu que tratava-se de uma chave de automóvel. Logo depois, a máquina acusou que havia algo de errado na região da zona da " caixa de ferramentas". Perguntou me "o que eu tinha ali". Levantei a camisa e mostrei o zipper da bermuda. Ele se convenceu com a explicação. Ufa ! Se tivesse apalpado a região teria notado que eu carregava uma pistola. Não era de metal e tampouco artesanal. Era de nervo e carne. Ainda assim uma pistola. Desta feita ele falhou. Se tivesse ele estudado com mais afinco as estatísticas, eu teria sido barrado. É comum nos estádios do Juruá, de torcida violenta e sanguinária, infiltrados da organizada adentrarem nas dependências portando essas pistolas. E incrível : 100 % desses elementos são do sexo masculino ! Definitivamente, somos uma torcida perigosa e nossa segurança é falha.

No jogo, o elemento principal não foi nenhum atleta. Foi o árbitro. Ainda bem. Faço questão de pagar o ingresso para ver o desempenho do trio de arbitragem. Pago para ver eles em ação, para ver eles desfilando em campo. Observo cada detalhe dos modelitos que eles usam. Passo 90 minutos analisando se a cor do meião combina com a cores da camisa e calção. Que tipo de penteado e corte de cabelo estão usando. Ontem, não fiquei decepcionado. O trio foi um show a parte. Até nome de ator tinha o "joiz" ou "professô". Daqueles nomes compridos, cheios de sobrenome nobres e artísticos do tipo " Paiva" e "Casas" . E que interpretação ! Ameaçou os jogadores do mal, com dedo em riste. Colocou-os em seus devidos lugares. Impôs respeito. Parecia um toureiro. Só faltou a torcida gritar "olé". E o  mais importante: Na dúvida sempre contra o time da casa. Árbitro que se preze e goste de aparecer tem que ser sempre assim, senão passa incólume e o jogo perde a graça, e ele  a viagem.

E o melhor, como qualquer atuação de respeito, estava reservado para o final. Como é comum mundo afora, o " professô" acrescentou só 8 minutinhos ao tempo regulamentar. Não satisfeito, encerrou a partida com 06 minutos, logo depois do time visitante chegar ao empate. Ora bolas, para quê 08 se só 06 foram o suficiente ? Fechou o seu fenomenal desempenho com chave de ouro.

Após o jogo, a torcida sanguinária do Juruá, quis, claro, tirar o couro do ator. Ninguém do mal torce pelo mocinho do filme. Perigosos pais de família, mães e crianças pequenas, usando a mais periculosa arma desde o advento da civilização que é a lingua nos dentes, que produz salivas, tentaram contra a integridade do trio de arbitragem. Mais uma vez, baseado nas estatística de violência praticada nos estádios da região _ nos quais a cada fim de semana pelo menos um árbitro de futebol tem  seu corpo esquartejado e sua cabeça decapitada, posta em ponta de estaca e exibida em praça pública _ um integrante da polícia decidiu atirar gás contra esses meliantes. Diante deste ato heróico, o policial deve está recebendo honrarias, quem sabe uma promoção funcional.

Bem feito. É para nós aprendermos que estádio de futebol não é lugar para torcedores, tampouco para família. Agora entendo porque em Rio Branco os jogos pelo estadual não têm mais torcida. Eles preferem ficar em casa ouvindo pelo rádio. Não pagam o ingresso e não perdem o direito de xingar a mãe do " joiz " quando se sentem lesados , estão livre de sentir fedentina e de respirar gás disparado pela polícia . Um dia chegaremos lá. Quem sabe aprendamos que o futebol profissional do Acre não depende diretamente do torcedor, afinal o governo estadual é obrigado a bancar para que ele exista.

Se o Estatuto do Torcedor realmente fosse uma coisa séria, ou se o país fosse sério, eu pediria meu dinheiro de volta. Como sou um fora-da-lei incorrigível, um cidadão sem um pingo de cultura e sem ocupação, devo no próximo domingo ir novamente ao Arena, para ver outro jogo. Se pudesse levaria uma máscara, já para prevenir. Mas máscara é coisa de terrorista, talvez por isso nem nossa preparada polícia a use. Pensando melhor se pudesse eu deixaria minha boca em casa, assim não correria o risco de abri-la para reclamar de nada. Em boca fechada não entra gás. Será ?

fonte: imagem internet

Arquivo do blog