domingo, 1 de abril de 2012

AINDA NOS RESTA A ÚLTIMA DE NOSSAS BELAS CANÇÕES





Embaixo da frondosa mangueira, espraiada na alta margem do velho rio, aguardo os inimigos para o combate e eles já apresentam rugindo, fazendo o chão tremer.

Olho minha espada reluzente, afiada a custoso limado, e vejo meu olhar nela espelhado. Não há medo. Quando se tem a certeza o temor cede espaço.

Logo mais abaixo está minha pequena aldeia. Tão simples, inocente e ao mesmo tempo heróica. O último reduto que o Mal Maior não domina.

Por estas pessoas honradas vale a pena lutar. Mesmo que a luta se apresente por hora perdida,  que a batalha esteja a priori decidida, nossos joelhos não se dobrarão.

Não lutaremos por líderes, causas, e suas belas palavras. Ouvimos o canto das sereias, mas tal qual Ulisses nos amarramos ao mastro e passamos incólumes. Conseguimos o melhor sem preço a pagar.

Não temos rei, nem senhor, nem cores de flâmulas. Empunharemos nossa bandeira imaterial pelo direito de sobrevivermos e só isso é que nos basta.

Não há  glória e sublimação . Não buscamos o paraíso em outra vida, não buscamos fazer história. Só queremos o direito de viver plenamente esta vida agora que nos pulsa tão generosa a despeito das dores, lágrimas no caminho a caminhar.

É isto que nos faz reconhecer-se gente e livre até para errar. 

Estamos sós. Nossos aliados renderam-se ao ócio e aos vícios que antes apontavam como falhas no caráter dos adversários. Hoje lambuzam-se na mesma gamela.

Penso o que tem sido até aqui.

O único arrependimento é das noites em claro, do frio, da fome que passamos a defender quem agora se mostra tão igualmente ignóbil aos nossos mais nefastos perseguidores.

O vento  soprou mais forte vindo do velho e amado rio, balançando os vigorosos galhos da mangueira-mãe. E eles me dizem: " Podem até destroçarem nossos corpos, estão em maioria absoluta. E destruírão nossos espíritos ? Te digo: Jamais ! Aqui é nossa terra e último grito de nossa última folha será  liberdade ! ".

Em nossa amada terra não há bosques, nem flores, nem mais amores, só a imensidão das gerais.

Piratas, saqueadores, falsos profetas, facínoras e aproveitadores que venham ! Por hoje e aqui, não nos vencerão e jamais enquanto durar a eternidade de nossas almas.

Vossa velha bandeira está puída e não tremulará novamente sobre a nossa gente.

Nossas espadas nunca tremerão. Elas riscarão este chão denunciando o mau jogo que fazem.

Ouço  vozes. Minha aldeia está cantando nossa canção. Última canção.

 Do nosso outrora grandioso exército, só me resta.

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