quinta-feira, 24 de março de 2011

O ROLO DO VELHO CORONEL E A CEGUEIRA DOS NOVOS








Eis aí, senhores, mais um exemplo de descaso com nossa história !

 A peça, objetivo destas fotos, trata-se de um rolo compactador. Este foi usado por um dos desbravadores desta região, o senhor Mâncio Agostinho Rodrigues de Lima, o Coronel Mâncio Lima, e seus confrades da maçonaria, para construir a primeira pista de pouso para aeronave em Cruzeiro do Sul e no Juruá.

O detalhe é que por falta de motor mecânico a tração utilizada foi a animal. Conta-se que foi usado couro bovino para fazer rolar a peça  sobre o barro. A pista foi construída no braço e na raça. Tem gente que declara à boca cheia que " fazer estrada na amazônia é algo épico". Fico a pensar se assim o é, com toda a tecnologia disponível para a modernidade, o que dizer então do esforço daquela gente para fazer nascer um aeroporto do nada e dentro do nada, sem máquinas, engenheiros e afins ?

Hoje esta peça , talvez a única prova daquele feito, encontra-se abandonada e esquecida como se fosse um lixo, à beira da rua, junto aos entulhos da construção do novo prédio da 4.ª Zona Eleitoral, no bairro Aeroporto Velho. O nome do bairro, obviamente, vem da presença do antigo aeroporto da cidade. A unidade como algo descartável, está lá ,a mercê de quem quiser levá-la para usos particulares, fim de muitas coisas históricas desta cidade.

Não muito longe no tempo, o Governo do Estado e o folclórico prefeito de Cruzeiro do Sul, mestre das luzes, Vagner Sales, travaram uma ridícula disputa pela estátua do fundador da cidade , Marechal Thaumaturgo de Azevedo, aquela mesma, em que ele está de cabeça baixa, fincando a atual bandeira do Estado do Acre na terra dos Náuas. No fim, Vagner Sales venceu a queda de braço, o monumento foi destruído e a estátua removida do local. Quem ganhou mesmo foi um empresário que recebeu um estacionamento público gratuito. Quem brigou dizendo que era para o estacionamento da catedral Nossa Senhora da Glória, nunca mais foi à missa. Deve ser vergonha. Menos mal, pensei que isto nem existisse mais.

Hoje o objeto, caríssimo, pago com o dinheiro público dos cofres do Estado para homenagear o centenário da cidade, encontra-se jogado em um porão escuro de alguma repartição pública. Dizem que está no porão do Teatro dos Náuas, empoeirado e envolto em negras lonas plásticas. Que patuscada !

Enquanto isso, o histórico rolo compressor, que não custaria nem tanto assim, esquecido no centenário, esquecido pela imprensa, pelas autoridades, pela associação de moradores do bairro, ignorado pelos trabalhadores da construção do prédio do TRE,  desconhecido pela maioria da população e renegado pela história oficial, teima em resistir às intempéries. Um colosso !  Deve ser o trabalho humano nele impregnado _ de homens que falavam menos e faziam muito mais, suor daqueles que estavam mais preocupados com o desenvolvimento e sobrevivência da comunidade do que com holofotes e picuinhas politiqueiras _ que o mantém existindo, para servir de escárnio aos homens brilhantes de nosso tempo.

Quem sabe quando o cuidar bem de nosso patrimônio histórico render mais votos do que o clientelismo maldito e  o assistencialismo covarde ou quando o verdadeiro espírito do trabalho político se sobrepor ao mundo das maquetes, dos retóricos slogans, dos coloridos banners das propagandas ; quando as vozes oficiais pararem de só dizer " quem sabe, talvez" , alguém importante enxergue o heroico rolo, ali, desprezado, encolhido e solitário no meio ao lixo de nossa ignorância.

Para os homens  pré sapiens sapiens  " história não enche o bucho". Então dão  remédio de graça que é para matar as lombrigas e esquecer a sede pelo conhecimento. Estes são nossos "heróis" de hoje, que não morrem de overdose de descaso. E os inimigos ? Nunca  chegarão ao poder. O outro rolo compressor, este  da ignomínia politiqueira, jamais deixará.







segunda-feira, 21 de março de 2011

SER-SEM-NOME: BICHO


_ Ai, que bicho estranho !
_ Menina, pega a sandália e mata esse inseto. Cuidado com esse besouro que ele pode morder !

Sorte dele que cheguei antes cometessem tal crime. Do alto de minha autoridade conferida por nossa sociedade ainda patriarcal e pelo direito à propriedade outorgado pelo sistema de produção capitalista, ordenei em alto e bom som:

_  Deixem que viva. Ele não está fazendo mal a ninguém.

Olharam-me não muito satisfeitas. Sinal de que a Revolução Industrial, que permitiu, depois de muito estágios,  a emancipação das fêmeas de nossa espécie social, não tem volta. Mas irredutível, fiz prevalecer o prático, que dizem ser característica do macho Homo sapiens sapiens. Assim, o intruso safou-se e até posou para a foto tremida.

Há dias que venho percebendo a visita deste elemento. E coincidência ou não , sempre antes das chuvas . Será que existe relação entre o seu refúgio forçado e a mudança climática ?

Vejo sua figura. Não é das mais belas. Não tem a formosura ou encanto de uma borboleta. Mas também não é de causar asco. Estranheza talvez. Nunca tinha visto um espécime igual. Será que ele já foi catalogado pelo bicho-homem ? Reza uma lenda que ainda existem seres vivos amazônico não conhecidos pela parte da ciência terráquea encarregada de tal.

Pelo lado da idiossincrasia, qual será o propósito,  Deus, da existência de tal criatura ? Qual o  papel dele no espetáculo da vida ? Não canta, não sorri, não escreve, não lê, não imagina, não tem, não escolhe, não troca de roupas, não se prende a jóias, não obedece e nem sofre da alta carga tributária e tampouco da Teogonia. Vinicius _  que viu um passarinho,  não pode-lhe-ia mais ofertar um verso e o rei Roberto, nem mesmo na fase de ecologista, lhe dedicou uma canção. Por que vir a este mundo ?

Quanto tempo vive ?  Será um invidualista ou um coletivista ? Qual sua presa ? Qual seu predador ? E se for verdadeira a ideia disseminada de que os animais, exceto o homem, não têm alma ? Fiz o correto. O homem que se gaba de ser a imagem do seu criador e que sua alma é eterna, independente para onde vá depois daqui, luta pelo seu direito de existência e não quer largar sua vidinha passageira na Terra por preço nenhum, ou seja, quer viver, imagine um ser deste, sem alma e sem propósito para a eternidade...

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Hoje, ele não apareceu. Ou cumpriu seu papel na cadeia alimentar como jantar de outra fera ou retornou de mala e cuíca para o seu planeta natal e deve está tentando convencer o seu superior imediato a não endossar a invasão, até que se  crie um mecanismo de defesa para chineladas impulsionadas pela fobia das mulheres por seres invertebrados, com poderes de escalar paredes e de morder mesmo sem ter dentes. Quanto aos machos, toscos, que não se prendem aos detalhes da aparência, não são problemas. Já estão dominados, principalmente porque pensam que ainda mandam no mundo.

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