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Foto: Adson Dutra |
O tomate, que não é nosso de cada dia, é um alimento essencial para saúde. É rico em vitaminas, sais minerais e fibras. Além disso, possui uma substancia chamada de licopeno , capaz de efeitos oxidantes que ajudam na prevenção de doenças do coração e vários tipos de câncer, entre eles o de próstata.
O tomate, como se vê na foto, é produto "cult" em Cruzeiro do Sul. Nossa massa populacional não pode fazer uso dele durante a maior parte do ano. É o nosso caviar vegetal. Mas peço calma, toda benevolência prometida pela ingestão de licopeno pode ser adquirida também em outras frutas de cor vermelha. E a melhor notícia: Nos seus derivados industriais tais como molho, extrato, ketchup a incidência dessa substância, segundo pesquisas, é ainda mais acentuadas. Ataquemos então as prateleiras e fujamos, nós os juruanses, da tirania tomateira !
Só que não existe jurubeba doce e sem espinho. O tomate é só um símbolo. Um signo do descaso em todas suas representações. Poderemos viver sem o tomate senhores e senhoras, não, porém, com a azia que sua emblemática figura representa nesta foto, no nosso imaginário de escassez artificial e nossa vida severina de interiorano amazônida.
O tomate, esse ser de pele vermelha e lisa, não nos faz falta. Nem ele, nem hortaliças outras, nem frutas diversas. Falta-nos mesmo é cidadania. Falta respeito. Falta indignação. Sobra soberba e voraz apetite pelo lucro fácil. O barracão não nos abandonou ainda. Ele está lá a mostrar quem manda e quem, por bom juízo, obedece-lhes.
O problema não está na exportação, como dizem as vozes fortes dessas plagas. Sabem o tijolo, aquele produto bruto sem tecnolgia de ponta embutida ? Não vem da China. Sua matéria prima é o barro que, aqui na terra dos morros, teima em cair, por própria conta, em cima das fornalhas. Mil unidades custam quase cinco centenas da moeda corrente e nem tem licopeno. Não depende dos rios, nem estrada, nem aviões.
Alguns costumam gabar-se que são cruzeirense porque aqui nasceram. Outros proclamam-se "menino das barrancas do Juruá ". Outra penca não se cansa de explanar seus amores pelos telúricos dos nauás. Que sejam ! É um direito perene. Não serei eu o autor de tamanha reproche.
Entretanto, que me perdoem, muito mais cruzeirenses são aqueles obrigados a conviverem com tremendo acinte , independente do registro de nascimento. Uma realidade que todos conhecem, porém, ninguém toma providências, muito menos aqueles que reúnem as condições legais e constitucionais para tal .
Só o fim da promessa centenária da ligação terrestre não é suficiente. Que venham os lobos de garras e dentes maiores ainda, a travar batalha, com suas máquinas de maior reprodução e poder de ganho com menor esforço. Ganharemos tomates, mas perderemos a inocência do isolamento. Poderíamos viver em paz, se não fosse os olhos tão grandes dos velhos lobos nativos, de garras e dentes postiços. Tomate cru para eles e sem licopenos.