sábado, 15 de outubro de 2011

PIAU* E O PARTIDO DE DUAS CABEÇAS OU SE É QUE ME ENTENDEM


Recebi e-mail de Manuel Piau* que se encontra exilado em pesquisa sobre a vida na Terra:


Zadigático   Jurubeba,

Dias por aqui de pesquisa não localizei nada de tão importante que possa mudar as vidas das pessoas. Acho que escrever um livro teórico sem aplicação prática teria mais praticidade. Não tem humano que só soube o que era um orgasmo depois de ler num livro a respeito ?

Envio-te, entretanto, uma foto de um bicho-de-duas-cabeças. Tua terra não pode ser assim tão fecunda como  foi a de  Policarpo Quaresma. Aqui nem tudo dá. Talvez a morena trigueira do igarapé Preto, como já se disseram, seja ! Mas por estas verdejantes paragens a vida é abundante, sem que necessário seja uma bunda grande...

Este exemplar da picture, senhor Jurubeba, me intriga. O troço tem 10 patas, cinco de cada lado de cada cabeça e não formam pares. Em cada uma das cabeças sobressai só uma antena e não duas. Não há histórico dele na biologia catalogada. Rumino que seja uma descoberta new.

Localizei o dito qual, já na aurora, em cima da pré-histórica Pedra Não Pintada, maravilhosa descoberta antropológica que indica que por aqui já teve outra civilização que não dava valor a pintura, preferiam também, talvez, preocupar-se com o andar alheio. Se tiveram cinema, este fechou por desuso. 

Contudo, não te ocupo o tempo para falar de tal criatura senão  para te inculcar tal observação:

Esse animal me lembra alguns dos partidos políticos terrenos, ou reuniões deles, em que se prega que duas cabeças pensam melhor do que uma, mas estranhamente, na praxe, cada uma vai para o seu lado e ainda querem formar um todo. Ninguém sabe qual a cabeça principal ou qual desempenha o papel da rabeira, para não dizer a cloaca.
Querem assim mesmo levantar voo. Devias ter visto a cena patética que presenciei da criatura: Cada cabeça puxando para o seu lado e ficaram deste jeito voando em circulo , sem sair do lugar, até cansar e ficar no mesmo local.

Entendível. Ninguém quer ser a cloaca. A cabeça principal é quem abocanha o néctar. Entendível, mas rísivel.

Não pude ter mais imagem da criatura. Um pequeno pássaro, bicudo e esfomeado não teve trabalho e nem cerimônia em devorar o bicho-de-duas-cabeças. Começou pelas desorganizadas dez patas, depois as duas distantes antenas , passo seguinte o corpo, deixando as duas cabeças por último.

Se fosse eu um faraó terrestre, tivesse sonhado, acharia um hebreu chamado José para decifrar o sonho. 

Não se faz necessariamente. Até eu que sou Manoel sei do significa quê.

A natureza daqui é professora. Infeliz do humano que confia seu destino à cega razão cega. 

Um abraço.

Msc Manuel Piau.

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* Manuel Piau é um alienígena alienado que por agora professa, mas que está  se oferecendo  para assumir a vaga deixada por Rafinha Bastos no CQC. Piau não entende o que significa ' comer alguém ' e nem o significado de 'a-bundante '. Ele nunca entrou de cabeça em um partido. É virgem de pai e mãe.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

FAÇO-O PRIMEIRO POR MIM SEM TIRAR DOS OUTROS





( Tchaikovsky Overture 1812- V for Vendetta )
Chegou próximo e convidou :

 _ E aí , combatente, vamos à luta ?

_ Não vou. Respondi-lhe sem rodeios. Olhou-me com surpresa. 

Expliquei minha posição. Penso que em nome das batalhas que outrora travamos juntos, merecia ao menos um esclarecimento.

De hoje em diante não mais lutarei por glória,  por honra e por justiça. Arrancarei as fotos de meus poucos ídolos da parede.

Não mais terei Aquiles ou Alexandre como exemplos de herois. Um lutava por glória e o outro por poder. Não desejo mais a força de vontade de ambos.

Minha espada não estará mais a serviço do rei, por quem devastamos campos de homens, e o qual, agora, está acometido dos mesmos males d'alma do pior tirano. Tornou-se obeso. Não vem mais ao sol e só aconselha-se dos velhos parasitas sociais de sempre. Tornou-se mais um deles.

Não quero mais a honra. Ficarei ao lado dos derrotados que não aparecem nos livros de história e nos cantos sobre o ato varonil. Aqueles não lutaram pelas honrarias, pelas revoluções, pela ousadia, pela coragem, pela sede de justiça, pela conquista, por sonhos, por deuses  e vontades superiores.

Lutaram simplesmente pelo direito de existir sobre a face da Terra, pelo direito de não ser exterminados por estar entre os gananciosos e seus objetivos. Lutaram por estar acuados e feridos, sem outra possibilidade. Batalharam movidos pelo medo de perderem suas inocentes crianças, que ficaram a mercê nas pequenas cidades destruídas. Foram, por regra geral, vencidos.

E assim vai ser. Guardei minha espada e só voltarei a tirar-la da bainha para lutar por minha própria existência e de quem de mim depende. Não quero heroísmo, só o direito de respirar sem dor.   

_ Que então assim seja. Não te entendo, mas respeito sua resolução. Lutarei por nós para que o mal não chegue até a ti e a teus protegidos. Pior que um mal pela metade é o mal completo. Os maus triunfam justamente quando os bons como você se calam e guardam as armas.

E  dizendo assim, foi embora disposto a reorganizar o  exército e lutar por seu rei, suas revoluções e ideais. Cada um escolhe seu destino.

Eu tirei minha espada e sob a sombra da velha samaúma, enterrei-a na terra e voltei a contemplar o horizonte,  o sol se escondendo, dourando as águas do caudaloso rio. Ainda é o que me resta antes que os inevitáveis vencedores cheguem _ cedo ou tarde conseguirão. Aqui enfrentarão a última das resistências. Por mais debilitado, cansado e faminto esteja, lutarei e meus joelhos não se dobrarão ante meus inimigos.

Enquanto isso me vem à mente:

" Não sou escravo de ninguém/ Ninguém, é senhor do meu domínio/ Sei o que devo defender/ E, por valor eu tenho/ E temo o que agora se desfaz./ Viajamos sete léguas/ Por entre abismos e florestas/ Por Deus nunca me vi tão só/ É a própria fé o que destrói/ Estes são dias desleais".[...]





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