segunda-feira, 23 de maio de 2011

NÓS OS MELIANTES DO ARENA DO JURUÁ



Ontem, como já é de praxe, resolvi gastar meu tempo em assistir a mais um jogo do Náuas pelo Campeonato Acreano de Futebol Profissional (sic) , versão 2011. Sinceramente é algo que não tenho vergonha de fazer. Graças a Deus não tenho que esbanjar cultura. Alguns perdem seu tempo em encher a cara de álcool, o bucho de churrasco de carne gordurosa. Eu perco o meu assistindo jogos em fins de semana.

Chegando ao estádio Arena do Juruá, dirigi-me à bilheteria. Enquanto desembolsava R$ 10,00, minha narinas foram invadidas por um odor insuportável. Segundo a funcionária que vendia o bilhete tratava-se de "remédio" para matar formigas, que fora aplicado há pouco tempo.Putz ! Um cheiro daquele não existe formiga que resista. Não sabia que fabricavam "remédio" para formigas a partir de extrato das glândulas axilares do gambá.

Ainda zonzo fui para o portão de acesso. Lá, um segurança usando um daqueles detector de metal móvel decidiu me revistar. Antes de mim, passaram no mínimo 04 pessoas sem essa preocupação. Eu porém despertei alguma suspeita no segurança. Não tiro a razão dele. Tenho realmente a cara de terrorista. Estava minha barba por fazer, usava bermuda e tênis de marca duvidosa. O detector acusou algo de errado no bolso dianteiro da minha bermuda. De imediato o segurança, experiente no ramo, questionou-me do que se tratava. Mais uma vez ele estava correto Existem estatísticas confiáveis que comprovam que os terroristas cruzeirenses costumam carregar armas e artefactos explosivos no bolso da frente da bermunda, quando vão aos estádios.

Aliviado, ele percebeu que tratava-se de uma chave de automóvel. Logo depois, a máquina acusou que havia algo de errado na região da zona da " caixa de ferramentas". Perguntou me "o que eu tinha ali". Levantei a camisa e mostrei o zipper da bermuda. Ele se convenceu com a explicação. Ufa ! Se tivesse apalpado a região teria notado que eu carregava uma pistola. Não era de metal e tampouco artesanal. Era de nervo e carne. Ainda assim uma pistola. Desta feita ele falhou. Se tivesse ele estudado com mais afinco as estatísticas, eu teria sido barrado. É comum nos estádios do Juruá, de torcida violenta e sanguinária, infiltrados da organizada adentrarem nas dependências portando essas pistolas. E incrível : 100 % desses elementos são do sexo masculino ! Definitivamente, somos uma torcida perigosa e nossa segurança é falha.

No jogo, o elemento principal não foi nenhum atleta. Foi o árbitro. Ainda bem. Faço questão de pagar o ingresso para ver o desempenho do trio de arbitragem. Pago para ver eles em ação, para ver eles desfilando em campo. Observo cada detalhe dos modelitos que eles usam. Passo 90 minutos analisando se a cor do meião combina com a cores da camisa e calção. Que tipo de penteado e corte de cabelo estão usando. Ontem, não fiquei decepcionado. O trio foi um show a parte. Até nome de ator tinha o "joiz" ou "professô". Daqueles nomes compridos, cheios de sobrenome nobres e artísticos do tipo " Paiva" e "Casas" . E que interpretação ! Ameaçou os jogadores do mal, com dedo em riste. Colocou-os em seus devidos lugares. Impôs respeito. Parecia um toureiro. Só faltou a torcida gritar "olé". E o  mais importante: Na dúvida sempre contra o time da casa. Árbitro que se preze e goste de aparecer tem que ser sempre assim, senão passa incólume e o jogo perde a graça, e ele  a viagem.

E o melhor, como qualquer atuação de respeito, estava reservado para o final. Como é comum mundo afora, o " professô" acrescentou só 8 minutinhos ao tempo regulamentar. Não satisfeito, encerrou a partida com 06 minutos, logo depois do time visitante chegar ao empate. Ora bolas, para quê 08 se só 06 foram o suficiente ? Fechou o seu fenomenal desempenho com chave de ouro.

Após o jogo, a torcida sanguinária do Juruá, quis, claro, tirar o couro do ator. Ninguém do mal torce pelo mocinho do filme. Perigosos pais de família, mães e crianças pequenas, usando a mais periculosa arma desde o advento da civilização que é a lingua nos dentes, que produz salivas, tentaram contra a integridade do trio de arbitragem. Mais uma vez, baseado nas estatística de violência praticada nos estádios da região _ nos quais a cada fim de semana pelo menos um árbitro de futebol tem  seu corpo esquartejado e sua cabeça decapitada, posta em ponta de estaca e exibida em praça pública _ um integrante da polícia decidiu atirar gás contra esses meliantes. Diante deste ato heróico, o policial deve está recebendo honrarias, quem sabe uma promoção funcional.

Bem feito. É para nós aprendermos que estádio de futebol não é lugar para torcedores, tampouco para família. Agora entendo porque em Rio Branco os jogos pelo estadual não têm mais torcida. Eles preferem ficar em casa ouvindo pelo rádio. Não pagam o ingresso e não perdem o direito de xingar a mãe do " joiz " quando se sentem lesados , estão livre de sentir fedentina e de respirar gás disparado pela polícia . Um dia chegaremos lá. Quem sabe aprendamos que o futebol profissional do Acre não depende diretamente do torcedor, afinal o governo estadual é obrigado a bancar para que ele exista.

Se o Estatuto do Torcedor realmente fosse uma coisa séria, ou se o país fosse sério, eu pediria meu dinheiro de volta. Como sou um fora-da-lei incorrigível, um cidadão sem um pingo de cultura e sem ocupação, devo no próximo domingo ir novamente ao Arena, para ver outro jogo. Se pudesse levaria uma máscara, já para prevenir. Mas máscara é coisa de terrorista, talvez por isso nem nossa preparada polícia a use. Pensando melhor se pudesse eu deixaria minha boca em casa, assim não correria o risco de abri-la para reclamar de nada. Em boca fechada não entra gás. Será ?

fonte: imagem internet

Um comentário:

  1. Deveríamos realizar uma campanha contra a violência no nosso estádio que todos os domingos de jogos morrem uns três de cada torcida. Vamos todos de mascaras e cada um leva uma flor ou quem achar a flor coisa de “boiola” leva uma vela e use como queira. Kkk. Talvez assim a polícia e esses juízes ladrões que a Federação manda pra cá possam nos deixar em paz. É por essas e por outras que o futebol do Acre é assim... O nada.

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