( Tchaikovsky Overture 1812- V for Vendetta )
Chegou próximo e convidou :_ E aí , combatente, vamos à luta ?
_ Não vou. Respondi-lhe sem rodeios. Olhou-me com surpresa.
Expliquei minha posição. Penso que em nome das batalhas que outrora travamos juntos, merecia ao menos um esclarecimento.
De hoje em diante não mais lutarei por glória, por honra e por justiça. Arrancarei as fotos de meus poucos ídolos da parede.
Não mais terei Aquiles ou Alexandre como exemplos de herois. Um lutava por glória e o outro por poder. Não desejo mais a força de vontade de ambos.
Minha espada não estará mais a serviço do rei, por quem devastamos campos de homens, e o qual, agora, está acometido dos mesmos males d'alma do pior tirano. Tornou-se obeso. Não vem mais ao sol e só aconselha-se dos velhos parasitas sociais de sempre. Tornou-se mais um deles.
Não quero mais a honra. Ficarei ao lado dos derrotados que não aparecem nos livros de história e nos cantos sobre o ato varonil. Aqueles não lutaram pelas honrarias, pelas revoluções, pela ousadia, pela coragem, pela sede de justiça, pela conquista, por sonhos, por deuses e vontades superiores.
Lutaram simplesmente pelo direito de existir sobre a face da Terra, pelo direito de não ser exterminados por estar entre os gananciosos e seus objetivos. Lutaram por estar acuados e feridos, sem outra possibilidade. Batalharam movidos pelo medo de perderem suas inocentes crianças, que ficaram a mercê nas pequenas cidades destruídas. Foram, por regra geral, vencidos.
E assim vai ser. Guardei minha espada e só voltarei a tirar-la da bainha para lutar por minha própria existência e de quem de mim depende. Não quero heroísmo, só o direito de respirar sem dor.
_ Que então assim seja. Não te entendo, mas respeito sua resolução. Lutarei por nós para que o mal não chegue até a ti e a teus protegidos. Pior que um mal pela metade é o mal completo. Os maus triunfam justamente quando os bons como você se calam e guardam as armas.
E dizendo assim, foi embora disposto a reorganizar o exército e lutar por seu rei, suas revoluções e ideais. Cada um escolhe seu destino.
Eu tirei minha espada e sob a sombra da velha samaúma, enterrei-a na terra e voltei a contemplar o horizonte, o sol se escondendo, dourando as águas do caudaloso rio. Ainda é o que me resta antes que os inevitáveis vencedores cheguem _ cedo ou tarde conseguirão. Aqui enfrentarão a última das resistências. Por mais debilitado, cansado e faminto esteja, lutarei e meus joelhos não se dobrarão ante meus inimigos.
Enquanto isso me vem à mente:
" Não sou escravo de ninguém/ Ninguém, é senhor do meu domínio/ Sei o que devo defender/ E, por valor eu tenho/ E temo o que agora se desfaz./ Viajamos sete léguas/ Por entre abismos e florestas/ Por Deus nunca me vi tão só/ É a própria fé o que destrói/ Estes são dias desleais".[...]
Simplesmente sensacional ! li seu texto ouvindo a música.De arrepiar. É a primeira vez que leio o blog e confesso que adorei seus textos ora polêmicos, ora divertidos com a mais fina das ironias, ora sentimentais.Vc foge do lugar-comum. Que pena que ele não seja tão assim divulgado. Achei-o por acaso. Vc não tem muitos amigos, é isso ? ou gosta de ficar quietinho na penumbra ? Vc é mesmo de Cruzeiro do Sul ?
ResponderExcluirUm abraço da sua nova fã ( talvez a única)