Foto de Sérgio do Vale (surrupiei do facebook do mestre João Carlos) |
Nasceste para ser progressista, Bela Cidade Ruídosa onde outrora espumava o Tapir
a despeito daqueles que atravancam o teu caminho,
para o desgosto de teus detratores, filhos ingratos
que explanam falsamente nos ares um malgrado carinho
batendo no peito e só falando de boca à fora.
Para ignomínia alegria dos que não te sente,
dos que nunca subiram [penando] a pé uma de suas ladeiras.
Uns já subiram tanto tempo faz que não se lembram mais.
Agora é no 4 x 4 traçado de vidro fumê e ar refrigerado.
Para a vergonha dos que por palavras te maltratam ou já maltrataram
e hoje precisam de ti para laborar e sua prole sustentar do suor
mesmo que não de seu rosto, pois não trabalham braçal.
Cabrinhas hipócritas !
Para o sorriso ardiloso dos que aqui aportam,
Falso Profetas, com perfídia e soberba
a se aproveitarem de sua ainda inocência de cidade centenária
isolada do mundo dos vivaldinos, especialistas libertários
sem bandeira e sem passado.
Por que agora te escrevo em pleno janeiro invernoso
se homenagens já te oferecem [oficialmente] em setembro quando tu fazes primavera ?
É que não sou poeta, não vejo beleza nas flores _ Aqui não tem parque urbano.
Tu és bela mesmo é no tempo das águas, seja preta, seja barrenta
quando, diferente do que dizem as vozes oficiais,
foste de verdade descoberta,
liberta sempre por essa estrada milenar de muitas curvas e águas turvas, caudalosas,
sem placas inaugurais e disputas mesquinhas por metros cúbicos de betuminoso.
Não sou cabloquinho do Juruá, meu umbigo não está enterrado em suas barrancas.
Não sou herói, não sou do tradicional famíliar, não distribuo remédio público na zona rural,
não falo a língua do povão.
Só ainda vez ou outra subo ladeira a pé - te sentindo, enquanto esses senhores a sobem de 4x4 traçada
_ e nem buzinam, só deixam marcas no asfalto quando fazem as curvas cantando pneu.
Grandes homens do povo !
Viram? estraguei a homenagem. Mas já disse que amargo
não sei falar de flores só de água descendo as ladeiras
e tirando a maquiagem do que foi malfeito,
por isso és mais uma vez, verdadeiramente, descoberta no tempo das águas.
Sábado pela manhã e chove fino. Teus e rios e igarapés ainda mais encherão
serão lembrados em fotografias, tuas ruas se encherão de lama
e os quintais de teus filhos que o Norte criou se alagarão por falta de saneamento,
provocarão dor, raiva e desespero, não relembrados na próxima eleição.
Mas e a paisagem ? Continua linda...
Queria parafrasear Quintana e dizer que aqueles que estorvam
o teu caminhar, passarão e você passarinho.
Mas talvez outros piores ainda virão e não és pássaro !
É cidade onde o lampejo do progresso chegou desde 1904.
Esquecida e maltratada, quer ser grande como o rio
que no inverno, cheio e generoso, te banha.
Só basta aqueles que dizem te amar, te deixarem ser
natural e progressivamente bela,
porque água, acima de tudo e todos, é vida,
mesmo sendo uma frase batida.
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