quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O POLÍTICO IMPOLUTO E O POBRE DIABO: DUAS VELAS

Ontem, foi o dia da procissão, ponto culminante do novenário maior do estado. Uma multidão se formou no andor. Entre os fiéis estavam alguns políticos. A maioria não sabe nem as cores da manta da santa, nunca adentrou sequer na catedral octagonal que se confunde com a própria cidade, como um quase esteriótipo para o turista noviço.

Mas sabe como é que é : nunca é de bom alvitre desprezar a popularidade da procissão. Além disso, a santa perdoa a ignorância quanto ao correto fazer do sinal da cruz

E nessa relação política-religião veio-me à lembrança  um causo  contado por um amigo que não me revelou o nome do santo, apenas o milagre e eu, melhor, irei também preservar o nome do vigário, expondo aqui somente o conto. O Jurubeba não é blog sério, mas não defenestra ninguém. Quero uma almofada no paraíso.

Assim me foi narrado:

Homem que seguia à risca os bons costumes e princípios cristãos, político da velha nata, na qual a palavra valia mais que uma escrita, defensor incansável da família, dono de uma facúndia oratória, enfim, um sujeito que hoje não mais se produz no social.

Destacava-se desde o primeiro mandato político como uma figura dada a dividir o pão com os mais necessitados de material. Não tinha hora e nem lugar ou tempo ruim que o fizesse recuar quando o seu intento era fazer o bem aos próximos.

Mesmo sem formação teológica, era quase um líder religioso. Precisava-se de um amparado, de um conselho, de uma boa palavra que lhe acalmasse o espírito ? Socorria-se com o velho político. O casamento ia mal ? peça ajuda ao Moisés sem cajado. 

Em décadas de antanho, o satã era mais vivo que hodierno. Costumava adentrar ainda nos couros de algum infeliz pecador. Um pouco mais arredio, hoje, no máximo se manisfesta no facebook compartilhando as frases feitas, em dúbios sentidos.

Pois bom. O capeta tomou conta de um corpo e nem com os diabos queria sair dele. Zombeteiro, costumava rezar e orar junto com os padres e pastores, que sem consagração ousavam enfrentá-lo. O sacana ainda sabia decorado todos os versos dos mais diversos livros.

Em desespero, a família, humilde em materialismo, decidiu solicitar auxílio espiritual ao herói de paletó que de quatro em quatro anos costumava fazer peregrinação de casa em casa, desprovido dos caros sapatos Vulcabrás e vinhos de boa safra, substituídos providencialmente pelo chinelo da humildade e água 'aformigada' servida no copo de leite condensado reaproveitado, consciência de reciclagem que só a pobreza propicia.

De imediato e bom grado, aceitou o líder a incumbência. Pediu, entretanto, mediante o histórico da potestade inimiga relatada ali pelos populares, uma semana de preparação para batalha. Precisava se fortalecer mais ainda que de costume no poder espiritual.

Viajou à capital do estado em busca do apoio do diretório do partido que se confundia com o mais misterioso mosteiro dos picos do Himalia.

Por seu lado, o satã que não é onipresente e onipotente, não sabia do seu destino, até que uma dessas vizinhas fuxiqueiras, em um descuido, soltou a boa nova perto do sem-graça. Mesmo não sabendo o nome do  opositor que pretendia desancá-lo, o capeta como cão escaldado que é, decidiu também se fortalecer.Como à época ainda não havia chegado por aqui as várias marcas de bebidas energéticas, teve o chifrudo que se contentar em comer bananas para evitar as cãibras.

Chegado o dia, o ferrabrás tremia mais que vara verde ao vento, temeroso do encontro com tão alta santidade em carne e osso. Eis que surge à porta o Escolhido com numerosos séquitos esperançosos na derrota do mal. Alguns tinham também a esperança de um emprego de assessor na próxima legislatura.

_ Vade retro coisa ruim, foi logo exclamando o homem da moral impoluta.

Em resposta ouviu-se  uma gargalhada estridente e assim o capiroto lançou o desafio :

- Ah, então és tu ? Como ousas ? Como queres me expulsar se és mais torto que corte de foice ? Vade retro tu, antes que eu comece contar aqui teus 'milagres', como aquele de fazer aparecer sobre tua propriedade vários terrenos urbanos desta cidade de gente sem terra, não gastando um única pataca....      

Acabou-se de imediato a sessão de exorcismo. Foi o fim da batalha antes mesmo do começo.

É claro que como homem de boa índole, virtuoso de espírito , habilmente loquaz fez acreditar a todos os ali presentes  que não havia demônio nenhum. Tratava-se de mais um caso de um militante da oposição que sabia demais e tinha pretensões futuras de ser vereador.

Mais um milagre social que a imprensa muito atarefada, à época, jamais noticiou.

E o pobre capeta pobre ? continua sem ocupar cargo público, mas hoje faz parte da mesma coligação política do exorcista, como amálgama de duas velas, uma com a chama para cima e outra com a chama para baixo, a derreter-se...

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