terça-feira, 20 de março de 2012

VÃO-SE OS DEDOS TORTOS E FICAM OS ANÉIS MALDITOS

Reportagem da revista eletrônica semanal (putz !) da Rede Globo , o "fantástico", exibiu matéria no último fim de semana sobre a corrupção ativa na secretaria de saúde do estado do Rio de Janeiro.

Nada de novo. Só mostrou o que todos já sabem, tem gente já broxado de saber : o serviço público em geral, o que não significa um todo, é corrupto.

Corrigindo: não é corrupto. Deixa-se corromper.

E é assim desde que Brasil é Brazil que se preze. Fomos vocacionados desde nossa fundação para tal.

Pois só. Foi  a reportagem ser exibida e pipocaram país à dentro críticas ao sistema público de saúde do tipo, " não tem mais condições, temos que privatizar também a saúde, o Estado tem que ser extinto urgente! ".

Destarte que não sou e nunca serei a favor de uma Estado paquiderme e ineficiente. O nosso Sistema Único de Saúde, exemplo  de utopia que rema contra a grande maré do " entrega tudo ao mercado e deixa o pau rolar" , tem sido em linhas gerais _ olha a generalização novamente _ um plano fracassado.

Lembremos que estamos falando de salvar vidas. Especificamente neste caso, um fracasso concorre contra mil sucessos e vence.

Seria então a privatização da saúde nos moldes americano a salvação da saúde geral ?

Vejamos o outro lado.

Ontem, o programa humorístico "CQC" da rede Bandeirantes, exibiu a seu estilo o que significa a 'eficiência' da saúde 'sem burocracia'.

Um determinado casal da classe média alta, o marido sente repentina fortes dores no peito. Desesperados saem em busca de socorro nos mais qualificados hospitais da cidade.

Talvez porque, com razões diversas, não acreditassem no sistema público.

Não conseguiram, não obstante a urgência do caso, atendimento em nenhuma das instituições privadas, pelo simples fato de terem esquecido, no desespero, o comprovante do convênio ou "cheque caução".

Pelo falta de atendimento urgente o cidadão morreu, é o que disse a família.

Reza a cartilha da humanidade que mesmo o hospital particular mediante uma situação urgente não se pode negar atendimento a quem quer que seja.

Mas os hospitais particulares perguntam primeiro sobre dinheiro, bem antes de procurar saber o que o paciente está sentindo.

Seria um caso isolado ?

O CQC provou que não através de uma câmera secreta. Não houveram exceções. Se o produtor do programa tivesse também em situação de emergência teria perdido a vida, só por falta da maior criação humana - só humana - desde a roda: o dinheiro.

Hipócrates deve está feliz.

Condenaremos então a priori o sistema privado de saúde ?

Não. Mas mostra que ele não é a solução para este país, até porque muita gente sofre de amnésia por aqui, vai que esquece os documentos de caução em casa na hora da emergência.

Melhor que deixem em paz os dois sistema.  

O mal não está nos sistemas de saúde em si, que se funcionassem através da robótica seriam perfeitos. O Mal está nas pessoas que trabalham no sistema.

No público, os funcionários praticamente são coagidos pelos empresários em ceder à corrupção. As imagens do " fantástico" mostraram isso claramente. Difícil não cair na tentação do dinheiro fácil que só a iniciativa privada por propiciar. As consequências da canalhice pactuada não importam mais.O que vale é o prazer de ser mais esperto do que o resto dos mortais.

No particular você vale o quanto pode pagar, o que menos importa é a dignidade humana, que segundo todas as teorias liberais deveria ser inerente ao Homo sapiens no ato de sua geração ou quando viesse ao mundo nu, sem bolso, quanto mais dinheiro.

Diante das duas situações o congresso prometeu reagir com criações de leis que punem severamente o empresário corruptor ou o hospital particular que se negue a salvar vidas por falta de cheque caução.

Inútil. Não adianta trocar os funcionários e os empresários. Virão outros. Vãos-se os dedos tortos e ficam os anéis malditos.  O mal não está só no sistema legal. Não está só no Estado. Está nas pessoas. Falta-nos mesmo, como nação, a boa moral.

Em uma cena da filmagem sobre  corrupção ativa na secretaria de saúde do RJ, reexibida ontem no Jornal da Globo, um empresário disse candidamente, mais ou menos isto: " ensino isso aos meus filhos : protejam o seu contratante"

Talvez se a vozinha dele tivesse mandado-o escovar a boca com sabão quando, ainda moleque, disse o primeiro palavrão dentro de casa...

Talvez se tivesse pego um puxão de orelha quando apareceu em casa com a primeira moedinha fácil "que achou por aí..."

Talvez se tivesse aprendido que tão maravilhoso quanto ganhar dinheiro, é salvar a vida do semelhante...

Talvez, somente talvez, os sistemas seriam realmente os culpados.


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