segunda-feira, 13 de junho de 2011

ENFERMO EUFEMISMO




Trecho do livro " Trabalhadores da Floresta do Alto Juruá _ Cultura e Cidadania na Amazônia. 2.ª ed. 2007 ( página 249), do professor cruzeirense, Enock da Silva Pessoa: 


" Menores Vagabundos: a cidade está dominada por eles. São encontrados aos bandos, cigarro pendente ao canto da boca ou atrás da orelha, cacete na mão para bater nos seus desafetos. O Igarapé São Salvador é o ponto predileto desses vadios que ali maltratam o gado vacum que por ali passa procurando o campo da várzea. Os Paes lhes dão a mais franca liberdade e acham que seus filhos são bons, direitos e incapazes de fazer o mal. São realmente bons canalhazinhas, bons destruidores e futuros malfeitores " ( Jornal O Rebate 23/11/1927 )


Lendo esse trecho me veio à massa cinzenta como bons tempos eram aqueles de outrora quando um jornalista tinha toda a liberdade de escrever sobre o que bem lhe conviesse, sem preocupação de ser, como acontece no modelo americano capitalista de imprensa atual, " politicamente incorreto" e de correr o risco de desagradar patrocinadores, públicos/governamentais ou privados, da firma em que é  empregado; ou de sofrer perseguição psicológica e social pelo simples fato de  escrever o que se pensa. A noticia ainda não era uma mercadoria para  ganhar lindo invólucro, ser ofertada e vendida.

Vagabundo era vagabundo e não " vítima do sistema". Os primeiros culpados pelos erros dos filhos eram os pais e não " a falta de oportunidade e perspectivas que os governos nunca conseguem resolver " e muito menos as escolas. Quem tinha tempo de sobra para prejudicar a vida alheia era vadio. Hoje, o policiamento  ostensivo do politicamente correto jogou o termo no limbo. Tudo pelo social, ensina-nos o douto Eufemismo.

Em nome de uma tal inserção ou imparcialidade, obrigatória e, por isso, dúbia - diria  cínica, muitos profisionais da imprensa são escondidos atrás de máscaras e não podem expor suas opiniões. Quando as fazem, falam só o que os patrões ( proprietário, patrocinadores ) permitem ou acham politicamente aceitável.

E essa frescura contamina. Hoje, tem até  blogueiros declarando que " o conteúdo deste blog é  imparcial" . Desde quando ser parcial, tomar parte, marcar posição é feio ? Desde quando a frescuragem do polticamente correto tomou de assalto as opiniões.

Por isso eu prefiro o velho jornalista cruzeirense do distante O Rebate de 1927 que traduzia o pensamento do seu espaço temporal , sem receio de o ser . Acima do certo e o errado,  dos grilhoes do tempo social-histórico vivido,  está a liberdade.

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