terça-feira, 2 de agosto de 2011

O ESTIRÃO DAS SOMBRAS

O CREPÚSCULO QUE OS NÁUAS VIRAM UM DIA CHEGAR

"Eu entendo a noite como um oceano/ Que banha de sombras o mundo de sol/
Aurora que luta por um arrebol / Em cores vibrantes e ar soberano/ Um olho que mira nunca o engano/Durante o instante que vou contemplar. " 

Zé Ramalho viu a Beira-Mar, eu eu vi o estirão do rio,  " Estirão dos Náuas", caprichosa exceção no mais meândricos dos rios amazônico e do mundo, o Juruá.

A todos que vieram, e foram-se por liberdade ou pela covardia, ou os que aqui se foram e encontram-se perenes, misturados ao barro deste verde mundo misterioso, esquecidos pelo poder, pela ganância, pelo descaso de quem escreveu a história e de quem continua a contá-la.

Àqueles que agora estão em carne e osso, vozes, pensamentos, sonhos, desilusões, revoltas e conformismo com seu destino, perdidos nestas curvas infindáveis  e com os pés na lama, repetindo desgraçadamente a história, filme de outro enredo, outros personagens e o mesmo triste fim.

Aos que virão, ainda sem história, sem carne, sem osso , sem sonhos e desilusões. São só projetos de uma força inexplicável. Herdarão esta terra, este rio, este sol, a aurora, o crepúsculo  e lerão a história que continua a repetir-se.

Até que um dia, quem sabe, além daquelas curvas , surja um estirão, embora  como este nas sombras, e eis que a distância fique menor e então uma meta onde a vista possa alcançar, o Sol minguando no horizonte.

Nas páginas onde o homem não escreve está: " Espírito, Carne, Suor, Sangue, Espírito..."  

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